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Calungas do Cumbe
Ponto 12
Nessa imagem a gente vê eu com uma blusa preta com o nome branco estampado Calungas do Cumbe, com o boneco na mão, o baterista. Ao meu lado, no centro, tá o Alonso, também com a blusa preta com o nome branco estampado Calungas do Cumbe, com o boneco sanfoneiro Pindoba; e à minha direita tá ao lado o Mestre Cheirim com boneco Obá, com a blusa também branca e o nome branco estampado Calungas do Cumbe.
Nessa foto aqui é a tenda, tenda é o local onde a gente se apresenta, é o local onde a gente fica detrás da empanada; a tenda é toda preta, um pano preto, nela contém a imagem do grupo Calungas do Cumbe de cor branca com o nome Calungas do Cumbe; ao lado existe algumas plantas artificiais, é o cenário do auditório, da apresentação; e em cima da imagem existe dois personagens, que é o Obá, e do lado a Maria Garrafa.
Nessa imagem tá o boneco Obá, de roupa cinza, barba branca, a cor dele parda, cabelo liso. O material dele é todo feito de coco.
Nessa imagem a gente está no ateliê do Mestre Cheirinho, aonde a gente tá desenvolvendo uma oficina com algumas crianças da comunidade, e nessa imagem existem sete pessoas, no caso, quatro adultos e três crianças; e nessa imagem tem alguns bonecos que a gente desenvolveu durante a oficina. Nessa oficina a gente usou alguns materiais que foram encontrados na natureza, no caso, eles usaram umas bonecas – o Fofão, que era aquele boneco de borracha, que existia muito de primeiro na televisão, e usamos também alguns materiais que tinha na natureza, como a hortênsia e o côco.
Bom dia, meu nome é Fabiano Gonzaga da Silva, sou natural da Comunidade Quilombola do Cumbe, Aracati, Ceará. Faço parte do grupo Calungas do Cumbe, que é um grupo de teatro de bonecos que surgiu aqui na comunidade através de um trabalho realizado pela Escola de Ensino Fundamental Raimundo Silvério Filho. Nesse trabalho, desenvolvido na época pelo professor João Luis –, que nessa época era professor da gente na escola Raimundo Silvério Filho –, na época do folclore, na data do dia 15 de agosto de 2001, foi formado o grupo Calungas do Cumbe. Esse grupo foi formado através de uma brincadeira na sala de aula. Na época do folclore, o professor João Luis perguntou à gente o que a gente deveria resgatar na comunidade que existia de cultura. E ao invés de a gente apresentar as lendas que existiam do folclore, Saci Pererê e outras coisas, a gente foi procurar o que existia na comunidade de expressão cultural. E nessa época eu tinha um tio, que o nome dele é Raimundo, conhecido como Cheirim. Nessa época ele apresentava o teatro de bonecos, que é conhecido aqui na região como calungas. Então juntamos um grupo de seis alunos, nessa época, e a gente foi até a casa do Mestre Cheirim. Chegamos até a casa dele e fomos tentar se informar como é que funcionava – porque nessa época que a gente foi entrevistar ele, ele não brincava mais. Ele já estava há uns 14 ou 15 anos que não brincava mais, e não tinha mais nenhum boneco, nenhum arquivo, nenhum acervo do teatro dele. E aí quando a gente chegou para pegar todas as informações, ele simplesmente não passou nada pra gente, não quis ensinar toda a brincadeira. E aí o que foi que a gente fez: a gente, mesmo assim, perseverou; a gente disse: “a gente vai fazer o nosso nosso próprio teatro”. E aí a gente criou nossos primeiros bonecos de isopor. Criamos as histórias; nessa época a história que a gente contava falava sobre a comunidade, a Santa Cruz, que é o morro da Santa Cruz, que é o cemitério, onde hoje é um cemitério centenário; a gente contava a história do cemitério, contava as lendas que existiam na comunidades, a lenda de Dom Sebastião. E aí a gente foi gostando dessa arte de brincar o teatro de bonecos.
E aí nessa época o Circo Zumbi, que era um programa que tinha da prefeitura do Aracati, que era uma escola – que eu acho que posso dizer “móvel”, porque era um ônibus – ele andava nas comunidades. E aí o Circo Zumbi viu uma das nossas apresentações e abraçou a causa. Aí começou a levar a gente dentro desse ônibus para se apresentar nas escolas. Foi aonde a gente foi criando gosto, foi criando vontade mesmo, de continuar. Ao passar do tempo, uns foram crescendo e outros foram arranjar trabalho fora da comunidade, e aí foi se desfazendo o grupo. Até então ficou só eu e o Alonso; dos seis integrantes só ficou eu e o Alonso. E aí, eu e Alonso começamos nós dois a dar continuidade ao grupo, não deixamos morrer o grupo – que foi aonde a gente conseguiu resgatar o Mestre Cheirim. No começo de tudo a gente foi tentar buscar explicações para ele e ele não deu nada, nada, nada do que ele [sabia]. E então ele criou gosto de voltar ao grupo, e em 2015 o Teatro de Bonecos virou patrimônio imaterial certo em 2015, aonde foi lançado o edital, onde foi um prêmio do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste. E aí a gente participou desse edital, lançamos ele como Mestre nesse edital, e aí ele foi contemplado; tanto ele como o grupo Calungas do Cumbe fomos contemplados com esse edital lançado pelo IPHAN em 2015. E daí foi mais uma força pra gente poder continuar o nosso trabalho.
Hoje a gente se apresenta nas escolas, universidades, nas praças, aonde você imaginar a gente faz as nossas expressões culturais. Aonde a gente se apresenta a gente também faz a oficina de como criar o próprio boneco, de como contar suas próprias histórias. E o interessante das nossas oficinas é que a criação dos nossos bonecos são de materiais reciclados da natureza. A gente vai até a natureza e recolhe aquele material, aquelas raízes das plantas, porque nossos bonecos são todo feitos, a maioria deles, de côco e de raízes – aqui é a raiz da hortênsia, da imburana. E aí a gente pega esse material encontrado nas dunas, no manguezal, a gente vai criando boneco, vai dando formas, e aí a gente vai nas escolas, faz as oficinas para os alunos de como criar o próprio boneco, e aí eles mesmos vão criando as suas próprias histórias. E aí a gente vai dando continuidade, porque é uma arte milenar. O teatro de boneco existe há mais de 3000 anos. Foi uma das primeiras expressões culturais já brincadas, através do teatro de bonecos.
E aqui na nossa região é conhecido como calungas, aqui nessa região do litoral do Ceará. Já em outras partes são conhecidos como mamulengo, babaú, João Redondo – e a única área que é conhecida como calunga é nessa área litoral; de Icapuí a Beberibe, até o Rio Grande do Norte, mais ou menos, é conhecido de quem brinca o teatro de bonecos como calungas. Já noutra região é Cassimiro Coco. E na maioria dos outros teatros de boneco, todos eles tem o Cassimiro Coco. O da gente não tem o Cassimiro Coco. O da gente a gente tem o Obá. O Obá é uma entidade, ele era um príncipe africano, um príncipe negro africano. E aí a gente deteve esse nome da época do Obá, porque já vinha de uma brincadeira também, de um boneco que já existia dos outros brincantes aqui da região, que também era Obá. E aí eu fui procurar o significado de Obá, e tinha tudo a ver também com o nome da comunidade, né, Quilombola do Cumbe. O nosso principal boneco da apresentação se chama Obá, ele é quem abre a empanada, conta a história um pouco da comunidade, e a gente também conta outras brincadeiras que existem para poder alegrar o público. O nosso público tanto faz a gente apresentar pras crianças, pro adulto, é um público livre.
A gente usa do dia-a-dia da gente, tudo que a gente pega no nosso dia-a-dia, a gente leva para dentro do teatro. A maioria das vezes a apresentação da gente é no improviso. Na época não, na época a gente se sentava toda a noite, os seis integrantes… A gente ia até a casa de um historiador daqui, do José Correia, e lá ele conhece muita história. Ele foi uma das pessoas também que deu muita força, além do João Luis e a Associação Quilombola, que abraçou a nossa causa. Ele começou a treinar a gente, começou a treinar as vozes, como é que a gente tinha que fazer vozes. Então, a gente fazia voz de mulher, voz de animal, voz de todo jeito; quando a gente se apresentava nos locais, as pessoas ficavam perguntando “cadê a mulher que tava atrás da empanada?”, mas não tinha, era a gente mesmo que fazia a voz, tinha um integrante da gente que fazia mesmo direitinho. Então tudo isso aí a gente ia para um para um local treinar, só que com passar do tempo, a gente tão acostumado de brincar, que a gente não precisava mais treinar, não; bastava a gente estar dentro da empanada, olhar um pro outro e já sabia o que a gente ia dizer um pro outro. E quando o público interage, a gente faz aquela brincadeira saudável e aí tudo termina bem.
Hoje graças a Deus a gente tá aí, mostrando nosso trabalho nas escolas, universidade, faculdades, mostrando todo esse trabalho riquíssimo que é o teatro de bonecos.
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