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Marisqueira
Ponto 17
Essa imagem a gente tá vendo as pessoas pegando sururu. Então elas estão mergulhando – aí é um local mais ou menos fundo, então elas estão mergulhando –; lá embaixo tem um banco de sururu, elas trazem o sururu com a mão, coloca dentro dessa caixa, e aí a gente vê as pessoas lavando o sururu. Aí é o processo de lavar, tirar toda a lama dele.
Aí é uma marisqueira, ela tá sentada, ela já trouxe o sururu do rio, ela já lavou em casa, aí ela tá fazendo o processo, em cima de uma mesa, de tirar a tripinha do sururu. Então, esse processo aí se chama destripar o sururu.
Aí a gente já tá vendo o processo do cozimento do sururu, depois daquela etapa da destripagem, lavou de novo, colocou aí na panela. Essa aí a gente tá cozinhando né, no qual a gente faz um fogo à lenha, e aí é o processo do cozimento do sururu, onde ele vai ficar abertinho. No caso o sururu vai ficar abertinho e a gente vai colocar ele dentro de uma caixa para bater o sururu.
Cozinhou, a gente tá tirando ele do fogo e aí a gente agora vai colocar ele dentro dessa caixa, que é a parte do batimento do sururu. Colocou ele dentro dessa caixa, a gente leva ele para uma mesa e fica batendo, que é para cair o miolo e o casco ficar dentro da caixa. Daí depois a gente vai fazer a separação de alguns que ficaram dentro do casco.
Aí a gente trouxemos sururu do rio e precisa colocar ele dentro do monobloco de novo e lavar para tirar mais, ele vem com um pouco de lama e precisa ser bem lavado, que é para poder iniciar o cozimento dele.
Pronto, a gente bateu lá o sururu, fez toda a limpeza nele, lavou o miolo dele, e aí a gente já tá no processo de empacotamento dele, né. Então aí já é o resultado final, onde ele vai ser vendido, ou então ele vai ser feito também para a alimentação da gente, também, que vai lá e pega ele. Então tá pronto para ser comercializado em pacotezinhos, tudo empacotado.
Então vou falar aqui um pouco sobre esse trabalho, que é o trabalho da mulher pescadora marisqueira. Porque somos mulheres pescadoras, marisqueiras do mangue, que é do rio, né. Aqui na comunidade do Cumbe a gente tem uma prática muito ancestral da mariscagem. O que é essa mariscagem? Essa mariscagem é a pesca no rio, a pesca de mariscos. Tem vários mariscos, a gente pesca o sururu, a gente pesca a ostra, a gente pesca o búzio, a gente pesca a intam. Então, são uma diversidade enorme de mariscos e essa prática é feita mais pelas mulheres. É feita pelos homens? Sim, mas por ser uma prática muito delicada que requer muito tempo, então essa prática, as mulheres como são mais cuidadosas – eu posso dizer – tem mais paciência, então essa é uma prática feita pelas mulheres marisqueiras.
E essa prática da mariscagem aqui na comunidade do Cumbe é muito ancestral. Eu faço essa prática desde pequena, que eu aprendi com a minha mãe, mas a minha mãe já aprendeu com a avó dela. Então é uma prática muito ancestral, é um trabalho do qual a gente desenvolve tanto para o consumo, mas também para vender e colocar alimento, comprar outras coisas que é necessário. Então assim, é uma prática muito feita pelas mulheres e que essa prática é ancestral e que ela resiste até hoje na comunidade.
Então a prática da mariscagem requer um tempo, é pela hora da maré – a maioria das práticas da mariscagem é feita na maré seca, onde a gente leva um tempo, um período. A gente vai até o rio, são usados vários apetrechos. Vou falar um pouco da mariscagem do sururu: a gente precisa do monobloco, a gente precisa de luva, a gente precisa de blusa longa por conta do sol, a gente precisa do chapéu, a gente precisa de uma forquilha que a gente faz com com a galha do mangue, a gente precisa de duas varas, que é para quando chegar lá no rio colocar e segurar esse monobloco. A gente chega lá, a gente arranca – são blocos de sururu – a gente arranca com as mãos, coloca dentro desse monobloco, e com a forquilha a gente fica limpando, limpando, limpando ele, a gente limpa; aí a gente precisa também de um saco, vai jogando ele dentro do saco, até encher o saco. Costumamente, uns tiram um saco – são sacos de náilon grande –, outras tiram dois sacos. E aí a gente vem, traz esse sururu para casa. Quando chega em casa, ele tem uma tripinha que a gente vai destripar de um em um, então por isso que eu digo que é um processo muito lento e muito longo. Precisa de muita paciência, é muito trabalhoso, também. E aí a gente vai destripando, depois a gente lava, depois a gente cozinha, ou a gente cozinha em latas ou a gente compra panelões grandes, a gente cozinha – a gente cozinha mais em fogo à lenha, porque é muita quantidade, fogão em gás é um gasto muito grande. Então, como a gente tem facilidade de muita lenha na comunidade, a gente cozinha no fogo à lenha. E aí a gente coloca dentro de outro monobloco, todo planejado, para quando ele se abrir para poder bater – coloca uma mesa com plástico em cima para bater ele – para cair o miolo, joga o casco no outro canto, no qual vai ser selecionado alguns sururus que ficam dentro desse casco, que vai ser retirado também. Aí depois que bate toda esse sururu, tem o processo de limpeza: alguma tripinha que ficou nele, algum casco que ficou nele. Aí a gente lava ele de novo, ou com água da torneira ou com o próprio caldo que é extraído dele, deixa assentar e e lava ele nesse caldo, e depois vai ensacar ele. Então assim, o sururu se a gente for contar, ele passa por mais de nove processos para poder chegar a ponto de ser comercializado ou consumido.
O sururu, como ele é um processo que é mais trabalhoso, mas você consegue tirar mais grande quantidade. No dia, dependendo da maré – porque tem a maré que sururu rende mais, tem a maré que rende menos – às vezes você consegue ali – duas pessoas trabalhando ou três pessoas trabalhando –, você consegue tirar até 20 kg, 22 kg por dia. Mas é por dia mesmo! É começando de manhãzinha cedo indo até certas horas da noite.
A intam não, a intam já é outro processo, às vezes você consegue tirar 2 kg, às vezes você consegue tirar 3 kg, mas é porque ela é mais difícil de se tirar. Então, a intam você precisa de uma enxada, de um balde, ela é dada numa croa, num banco de areia; você cava, vai cavando e vai tirando de um em um, ela vai dentro de um buraquinho; você vai tirando a areia com a pá, cavando, e ela vai caindo e você vai juntando e jogando ali no balde. Depois você lava ela e aí você traz ela para casa, cozinha e tira o miolo, e pronto; não tem o processo de destripar. Só que assim, é mais difícil de tirar ela, você não consegue tirar grandes quantidades num dia, porque realmente ela é mais difícil de se tirar.
Já a ostra, a ostra ela é tirada ou de mergulho, ou ela é tirada nos paus dos mangues, onde você vai lá quebrar ela; ou você cozinha, ou você come ela crua; ela tem tem várias formas de se vender e também de se comer. A ostra é outro tipo de processo, você usa o facão para poder tirar a ostra. Também tem que ir muito cuidadoso, porque a ostra ela corta muito. Tem que ir de luva, tem que ir de bota. A ostra é uma coisa assim, que você tem que ter vários cuidados, porque ela é um assim, um negócio assim, eu acho que ela é mais cortativa do que próprio uma lâmina de gilete; então, assim, para quem for tirar a ostra, ela tem que saber muito bem trabalhar com a ostra.
Já o búzio ele dá também na água, ou dá na praia. Hoje as pessoas fizeram tipo um ciscadorzinho e um arco com a redinha, onde você, tipo, cisca ele lá dentro do rio – o rio meio seco, você cisca –, junta e coloca dentro desse arco com redinha e você vai lavando e colocando dentro do saco, vai lavando e colocando dentro do saco. Você leva para casa, faz o processo do cozinhamento, também, cozinha ele; bate, quase o mesmo processo – só não faz destripar como sururu – mas bate ele, separa, seleciona do casco, limpa ele todo como se limpa o sururu, tira um casquinho, uma coisa; e depois também, ou comercializa ou come. Então, assim, são esses processos aí dos tipos de marisco que a gente tem aqui, que faz esse processo.
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